Especialistas defendem que as campanhas eleitorais estão
condicionadas às estratégias de marketing político e consideram como ferramenta
importante no processo eleitoral.
DANYLA MARTINS
A política tradicional, dos grandes oradores e discursos, já
não apresenta a mesma roupagem na política dominada pelas estratégicas do marketing.
Das falas longas aos discursos limitados do meio digital. Hoje, a política não
se limita apenas ao face a face, mas se estende para o universo on-line,
ambiente onde as informações são constantes, efêmeras e passíveis de críticas.
Tal mecanismo – o marketing político – tenta trazer consigo
ferramentas capazes de delinear os caminhos dos candidatos construindo bases no
processo eleitoral. Em contrapartida, políticos tradicionais apostam na
ideologia partidária. As eleições, no formato estratégico, hoje, pretendem
atingir o público internauta, para além do contato pessoal.
Em ano eleitoral, além do candidato em si, é pensado toda
uma estrutura que envolve as campanhas eleitorais e o marketing e os
profissionais da área elaboram planos de comunicação e estratégias com o
intuito de alcançar os objetivos das eleições. Dentro deste ambiente, o
marketing político pode ser uma estratégia essencial para o político.
Dentro do segmento, o publicitário e especialista em
marketing político pela USP Djan Hennemann releva que, para os candidatos, a
relevância do planejamento de marketing político é uma estratégia eleitoral.
Para o especialista, é importante considerar o trabalho em equipe da campanha
que está inserido no processo do marketing político.
Em palestra proferida na Acieg (Associação Comercial,
Industrial e de Serviços do Estado de Goiás) sobre marketing político, Djan
mencionou com ênfase a parte do planejamento como o ideal para o sucesso em uma
campanha política. “Planejamento é o diferencial. Otimizar tempo e recurso”.
Contudo, o especialista citou o exemplo do ex-presidente Lula como um dos casos
mais importantes de transformação política e de planejamento em que construiu
uma história de militância política e alcançou vitória.
Ao afirmar que política não é sorte, o especialista em
marketing político pontuou que o planejamento está além das estratégias, mas
consiste em visualizar e projetar cenários. Entretanto, Djan ressaltou que o
candidato também precisa de informação e conhecer quem é o eleitor.
Conforme explicou o especialista, o político, principalmente
o que está decidido pela candidatura, não tem segunda chance de causar a
primeira impressão e a imagem lhe projeta tanto para aspectos positivos quanto
negativos. Desta forma, o especialista concluiu que parte do marketing político
se deve à organização de uma agenda política e rede de relacionamento e ainda
acrescentou que o eleitor quer conteúdo, não havendo espaço para o antigo
político.
CADA POLÍTICO, UMA ESTRATÉGIA
Leopoldo Veiga Jardim, consultor político, traduz uma
vertente on-line como parte integrante do processo eleitoral, cujo alcance de
público não pode ser ignorada. Engajamento, envolvimento e relacionamento são
pilares, citados pelo consultor político, que fomentam a estratégia política.
“Para cada político, uma estratégia, esse é o charme do marketing político”.
Leopoldo pontuou que o público é segmentado e, portanto, um trabalho que não
tem o intuito de gerar volume, mas para consolidar a imagem para públicos
específicos.
Com as várias ferramentas digitais, Leopoldo citou que
recurso financeiro, recurso humano e criatividade são essenciais para otimizar
uma campanha eleitoral. Conforme explicou o consultor político, não é apenas
uma pessoa se candidatando, mas um projeto com demandas diárias. Ao relembrar o
cuidado com a imagem do candidato, Leopoldo disse que o discurso de que o
eleitor tem memória curta não pode ser considerado, pois há várias formas de o
eleitor copilar informações dos políticos.
O consultor político também salienta que o político precisa
se comportar como se estivesse em uma conversa informal com o seu eleitor,
estabelecer o engajamento e firmar posicionamento. Leopoldo defende que no meio
on-line é importante que o candidato fale em primeira pessoa para criar um laço
direto com esse público, potencial eleitor.
Por considerar apenas ferramentas, o consultor político
considera que o resultado consiste na estratégia utilizada para que haja
sucesso nos perfis políticos. De tal forma que o consultor político salienta
que o segredo está em gerar vínculos, relacionamentos e para isso um plano
estratégico deve ser elaborado. Leopoldo Veiga Jardim explica que várias
campanhas majoritárias utilizaram estratégias em suas mídias sociais, no
entanto, para obter resultado é fundamental que as pessoas sejam capacitadas e
treinadas para criar uma grande rede de relacionamento e de confiança.
MÍDIAS SOCIAIS
Mídias sociais como Facebook, Twitter, Linkedin, Youtube,
Slideshare são ferramentas que, segundo o consultor político, com a utilização
estratégica podem gerar resultados mensuráveis por meio de inúmeras outras
ferramentas que apresentam métricas e gráficos, que, quando bem interpretados,
podem ampliar o nível de influência, persuasão, popularidade e, consequentemente,
gerar empatia.
Especialista em marketing digital e com experiência em
campanhas políticas, a exemplo da campanha de Paulo Garcia (PT) nas últimas
eleições, André de Moraes afirma que o marketing não é garantia de vitória numa
campanha política, mas a falta dele pode significar a derrota. “Existem
inúmeros casos de excelentes campanhas (do ponto de vista do marketing) que não
tiveram êxito: vitória”.
No entanto, o especialista também pontua que são incontáveis
os casos de excelentes candidatos que perderam por não investirem em
comunicação.
André de Moraes, referente ao marketing político digital,
diz que as orientações aos políticos são as que garantam o melhor
aproveitamento possível no ambiente virtual. “As dicas vão desde melhores
horários para publicar conteúdos até leitura de resultados de monitoramento.
Também existe o fato de o uso da internet ser relativamente recente em
campanhas eleitorais, então é fundamental que existam conversas específicas
sobre a dinâmica do ambiente virtual”.
Para o especialista em marketing digital, o
político/candidato não tem obrigação de entender profundamente a internet, mas
é essencial que exista um profissional que auxilie nesse sentido. Questionado
sobre em que aspecto o marketing pode dar errado, André de Moraes exemplica com
formatação e leituras errôneas de pesquisas, identidade visual e conceitos que
não expressem verdadeiramente a essência do candidato, falta de sincronia e
unidade entre ações políticas e comunicação, etc.
“Atualmente, com a internet muito importante, existe também
a possibilidade de “viralizações negativas” de uma ou outra mensagem ou
conteúdo produzido pela campanha”. Quanto à vitória de um candidato por meio
exclusivo do marketing, o especialista diz que não pode afirmar que é impossível
eleger um candidato sem marketing, mas é muito pouco provável. “Muito mesmo! O
marketing eleitoral é um conjunto de técnicas e estratégias que envolvem
pesquisa, planejamento e comunicação com o objetivo de fazer o eleitor entender
e se identificar com as propostas e projetos de um candidato. Sem marketing, é
muito difícil o entendimento e a identificação acontecerem”.
Fonte: Diário da Manhã